domingo, 29 de agosto de 2010

Justificativa Continuação

Já em 1565, havia o chamado preconceito linguístico, tanto dos portugueses em relação ao tupi  como de ambos aos falantes de etnias agrupadas no tronco Macro-Jê.
Conforme explica a professora do Departamento de Linguística da UnB (Universidade de Brasília), Raquel do Valle Dettoni, o goiano fala com os traços  muito puxados no "R " que é normalmente chamado de "R" caipira, ou linguisticamente falando de "R" retroflexo. "Como o goiano fala com esse "R" muito puxado, supõe-se que  isso possa ter tido ao longo da história uma influencia da linguagem utilizada pelos bandeirantes que viviam na região do estado de São Paulo.  Esses bandeirantes tinham o português marcado por esses traços , já que eram das áreas mais interioranas do Brasil, principalmente as que chamaríamos de caipira".
A tese de doutorado da professora, estudou o dialeto da baixada cuiabana, que é formada pela capital Cuiabá e pelos municípios mais antigos que se criaram no inicio da colonização nas margens do rio Cuiabá e Paraguai. Ela conta que na época da colonização os bandeirantes que penetraram  pelo norte do estado do Mato Grosso  e levaram a suposta língua geral Paulista , que era de base indígena (tupi). O Contato do português dos colonizadores com as línguas indígenas locais (* falantes de etnias do tronco Macro-Jê) resultou  no dialeto cuiabano.
Algumas características são muito fortes nessa  fala regionalizada específica de Mato Grosso.  "Por exemplo:
os mato-grossenses não falam chuva e peixe , com esse som de "CHE" que nós temos, fala-se "tchuva" e "petche". Também não se fala caju e laranja, com esse som de 'GÊ' , fala-se "cadju" e "larandja", ressalta Raquel.
Como podemos observar no que foi demonstrado pela professora Raquel, comparando com o falar mineiro, a pronuncia do "DJI"  acontece todas as vezes  que  os nascidos no Estado de Minas Gerais, pronuncia  "DI" com o fonema "DJI", assim como o mato-grossense na pronuncia  dos vocábulos CADJU  e LARANDJA.
Na região de Caratinga, Manhuaçu e adjacências, é comum  se ouvir falar "male" ao invés de "mal" que tem sua origem no latim e que na transposição desse vocábulo para a língua  portuguesa, houve a supressão da vogal "e" , assim como em hospital e coronel (o termo  male, hospitali e coroneli ainda  é muito empregado pelas pessoas mais idosas).
Os termos "trem e uai", são de maior crítica  aos mineiros, porem , quando o mineiro diz: " vou comer um trem, ou vou olhar um trem; ou ainda que trem é esse? Não  está cometendo erro  na língua portuguesa, tendo em vista, o termo "trem" ter sua origem no latim "trabere" cujo emprego  do mesmo, pode ser  para referir-se a qualquer coisa. Quanto a interjeição ou afirmção "uai" surgiu do Inglês "why"em torno de 1765, quando se deu a construção da ferrovia  do trecho Minas - Vitória.

* A região central do Brasil, composta  pelos, hoje estados Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, não era habitada por etnias falantes do Tupi e sim dos falantes de etnias   agrupadas no tronco Macro-JÊ.

sábado, 28 de agosto de 2010

Justificativa - Continuação

Com o vocábulo frigidum  do latim, quando transposta para a Língua Portuguesa, ela se transforma em frio. No mineres ela ganha o ditongo "iu" e é pronunciada "friiu ".  É uma posição intervocálica.
Os grupos que vinham do latim e outros  que se formaram pela queda da vogal átona  localizada após a sílaba tônica, transformando-se no dígrafo lh a saber:
olho - oliiu, polvilho - polviliiu; estolho - estoliiu; espelho - espeliiu.
Quanto a juntar as  palavras, temos a influencia dos romanos cuja pronuncia era juntando as palavras umas as outras e, quando surgiu a grafia, esta, era realizada  da mesma forma, anexando  os vocábulos  uns aos outros formando uma expressão.
No Tupi, também ocorre a aférese e o apócope na junção de dois termos para formar um terceiro. Assim temos a palavra " oca ", que significa casa e a preposição " pé " que quer dizer "in". 
Exemplo:
Oca e pé  a primeira perde o "A" e em seu lugar surge o "I", ao se juntar com a segunda surge  uma terceira palavra " Ocipé".
Nas palavras começadas com a letra "B" acrescenta-se "M" antes. É como a língua portuguesa  escreve-se " m " antes de " P e B". Em Tupi em maio a fala  a letra "B" é precedida de " M ".
Exemplo:
timbára , timaba.
Em nomes compostos  suprime-se a ultima  vogal do primeiro e junta-se, sem hífen, o segundo nome, formando uma terceira palavra.
Exemplo:
mbauúma e umbauúboca - que quer dizer casa de barro.
As letras " CE e Ç' tem a mesma pronuncia  da língua portuguesa e as nasalações ocorrem com a colocação do "til , m  e n".
Esta demonstração de transformação de palavras , não acontece somente nos substantivos e preposições, mas também, nos adjetivos, advérbios e nos acréscimos de partículas principalmente nos futuros do indicativo, optativos, nos pretéritos imperfeitos do conjuntivo.
Exemplo:
apâb, acém, apén e asur.
 Tanto os tamoios como os tupis tocavam o "I" com grande delicadeza, e nas consoantes "C e G" a pronuncia era da mesma forma  aimeeng, aimeénginé.
 Nos vocábulos terminados em "T", como acepiát e aipotâr; na  formação dos compostos cai a última consoante do primeiro verbo e as duas primeiras letras do segundo verbo, assim como a mudança  do acento grave para circunflexo na primeira palavra, e  a segunda permanece o acento.
Exemplo :
verbos acepiàt e aipotâr  se transformam em acepiâpotâr
Deve-se observar que na língua Tupi, há  abundância  na acentuação com o uso do acento grave, agudo, e circunflexo na mesma palavra.
Nomes com a preposição " pé ", que quer dizer " in " em palavras que tem acento na penúltima sílaba , perdem a ultima  vogal.
Exemplo:
oca= casa transforma-se em ócipé que quer dizer casa; sendo o "I" de ócipé com a pronuncia áspera.
No tronco Macro-JÊ, especialmente, nas poucas palavras encontradas  no Vocabulário da Língua Pury, há várias palavras  escritas  com o fonema "DJI" com pronuncia   semelhante a de "DJIÃO = JOÃO ";  DE OLIVEIRA = DJIOLIVEIRA.
No Brasil de 1500, não se falava somente o Tupi, havia o Guarani no sul, o JÊ na região central e no sudeste, porém os Jesuítas mantiveram contato com os tupis e estudaram somente  a Língua Tupi, que consideravam os Jês como inimigos, tanto no contato físico como  na língua. Viviam em guerra e os apelidaram de  tapuias, que significa bárbaros,  e como falavam diferente  os chamavam de língua travada e silvícolas. Essa desavença foi transmitida aos catequizadores, que olhavam os JÊS, preconceituosamente, tanto no contato catequético , como linguístico. Assim podemos observar, pela falta de registros das línguas que integram o tronco Macro-Jê, línguas faladas pelas etnias  dos habitantes  da região central, norte do Rio de Janeiro, Espirito Santo  e todo o território que hoje  é o estado de Minas Gerais.

JUSTIFICATIVA DO DIALETO MINEIRO

No nosso país existem vários sotaques, o nortista, nordestino, mineiro, paulista, carioca e o sulista, devido as várias etnias indígenas que ocupavam tais espaços antes da chegada dos europeus em nosso território.  Não podemos deixar de citar o mais novo sotaque  e dialeto que é o resultado  da miscigenação das regiões brasileiras desde a fundação da capital federal. Nos últimos anos o falar do brasiliense (candango ) tem se personalizado e é muito forte a influencia mineira e nordestina, tanto no falar como na alimentação como em toda cultura.
Com isso nossa Língua tomou cor, segundo Possenti em sua obra "A cor da Língua ".  Porém  sotaque e dialeto são coisas distintas, no primeiro há entendimento do que se ouve, ao passo que no segundo, principalmente quando nossos sentidos não estão habituados àquela linguagem, temos dificuldade  em entender o que ouvimos.
Exemplo:
O carioca fala: pão de queijo; limpe o quarto de Lúcia; compre um litro de leite; ponha em baixo da pia.
O mineiro  diz: pãodjiqueij; limpquardjiLúcia; comprelidjileiti; ponhaimbaidapia.
Qual de nós nunca tenha ouvido um mineiro falar, ou mesmo lido alguma piada referente à fala mineira. Impossível!

Traços Fonéticos

O dialeto mineiro apresenta peculiaridades, tais como:
a) Apócope das vogais curtas, parte é pronunciado part' (com o " T " levemente sibilado; e também do "D" no gerúndio;
Exemplo: comendo passa a ser comendu ou comenu.
b) Permutação de " E " em " I " e do " O " em " U " quando são vogais  curtas;
 Exemplo: espada passa a ser ispada; estômago passa a ser  istomagu.
c) Aférese do " E " em palavras iniciadas por "ES " e a troca do " E " no final da palavra por "I ";
Exemplo:  esport para sporti.
d) Flexão do artigo no plural, à semelhança do caipira;
Exemplo: Os livros, é dito us livru;
                Meus filhos, se pronuncia, se pronuncia meus filiu.
e) Alguns dos ditongos  " FIO " passam a ser vogais longas "FII ", e todos os ditongos "OU "  e  "EI ", tais como: frouxo, pouco, louco, mineiro, sapateiro, carroceiro; passam a ser : froxu, pocu, mineru, sapateru, carroceru, respectivamente;
f) As palavras terminadas com os dígrafos: lh  e  nh, , tais como : espelho, pinho, ninho, caminho, ; passam a ser ispeliu,pin,ninh, camin e seus diminutivos ispelin; ninzin, pinzin e caminzim;
g) Contração frequente de locuções: " abra as asas" passa a ser abrazaza;
h) Palavras com S ou Z  e não no final como é em vários idiomas.
Exemplo:
a) Por que ocê  está questa cara que não é sua !
b) Quést's  crianças! Mãe pedindo as crianças que fiquem quietas;
c) S'trudia - Noutro dia - advérbio de tempo;
d) José está demorandjimais!
e) Quanta z'ora? Alguém perguntando as horas;    
f)  LimpiquardjiRaphael!  - Limpe o quarto de Raphael!
E outros vocábulos soltos, tais como:
Pronuncia do mineiro
- iscovadjidente                                       - escova de dente;
- dendufornu                                           - dentro do forno;
-ansdjiontem                                           - antes de ontem;
-dentifrissu                                              - dentifricio;
-setssetembru                                          - sete de setembro;
- sapassado                                             - sábado passado;
- tidjiguerra                                              - tiro de guerra;
- oliiuchêru                                               - olha o cheiro;
- prazdaliberdadi                                      - praça da liberdade;
- vidjiperfumi                                            - vidro de perfume;
- oliaprocêvê                                            - olha pra você ver!;
- tirissodaí  !                                             -  tira isso daí!
- ondiéquié?                                             -  onde  é qui é?
- ondjiéqu'stô?                                          - onde é que estou?
- diacompadi! dia sô!                                - bom dia compadre! bom dia Senhor;
- caisopô                                                  - caixa de isopor;
- praonnóistamuinnu?                                - pra onde nós estamos indo?
- imbaidapia                                             - em baixo da pia

Justificativa

No dialeto mineiro, assim como nos demais , das outras regiões do nosso país, as pessoas suprimem o "m " da palavra " homem " em razão desta ter origem no latim  " homo", também suprimem  nos substantivos terminados em "Em ", tais como: folhagem,, carruagem, ferragem e outras.
Exemplo: folhagi, carruagi, ferragi.
No latim o "A, E e o O", não se transformam, porém, o "I" se transfoma em "E e o U" se transforma em "O". Já na Língua Portuguesa brasileira,  o "A " não se transforma , porém o "E e o  O", são reduzidos a "I e U" respectivamente, quando a última letra é uma vogal curta.  Mesmo ocorrendo em outras regiões  a pronuncia do mineiro é mais acentuada.
Exemplo:
cinzeiro - cinzeru; copeiro - coperu; caderno - cadernu; diamante - diamanti; dinamite - dinamiti; estante - istanti.
No Latim ocorre a sonorização de consoantes intervocálicas surdas  em sonoras  daquelas que estão entre vogais, quando da transposição para o português.
Exemplo:
capo - cabo; amadum - amado.
É ponto marcante a Apócope das vogais curtas como " Parte " que é pronunciado "Part' " com o "t" levemente sibilado, e também o "d " no gerúndio  como "Comendo " passa a ser "Comendu".
Derivada do Latim a palavra "spngia" quando transposta para a Língua Portuguesa, passou a ser "esponja" ocorre  a aférese  do " E " em vocábulos iniciado por "ES".
Exemplo:
esporte para sporti - com a redução do " E" no final da palavra para "I".
É bom frisar, que em todo país ocorre  a supressão do "E" nas palavras começadas por "ES", logo não se trata de exclusividade do falar mineiro.
Exemplo:
espada - ispada; escola - iscola,  espreme - ispreme - 3ª pessoa do singular, do presente do indicativo do verbo espremer; espumante - ispumanti.

Vocabulário Pury continuação "N"

Português                                                           Puri
                                       N
nariz                                                                   ahm'ni
nhambu                                                               shaprúra
noite                                                                   mripô
nuvem                                                                 huerahschka

                                       O
olho                                                                   mri
onça                                                                  pon-an
osso                                                                  am'mi
ouro                                                                  mretetêna

                                       P
paca                                                                 arotah
papagaio (jurujuba )                                          shtronha,       shitrohra
passarinho                                                         chipú
pai                                                                     charé
palmito (palmeira )                                             ehkah
pé                                                                     chapêprera (ver mão)
pedra                                                                uk'huá
peixe                                                                 nhgamaquê
pena                                                                  chipupê
perna                                                                 katenhra
pote                                                                   pom
pombo                                                               schandô
porco                                                                 sotanxira
porco castrado                                                   açohtl'axira
preto                                                                  pehuôno
pud, mulieris                                                       tocoh
pud hominis                                                        ashim
pular                                                                   guaschantl'eh

                                     Q
quati                                                                   schamutan
queixada                                                             sôtan
quixerenguengue                                                  peh'oh

                                      R
ramo                                                                   pôtl'ica
rapadura                                                             capôna
restilo (aguardente)                                              canjâna
rio                                                                      mnhãma-rôca
rir                                                                       l'ipon'
roupa                                                                 antuh
rusga                                                                  guaschê

                                      S
sal                                                                      orvi
sangue                                                                ahtl'im
santo                                                                  Tupan
sapo                                                                   shaluh
sauá( macaco)                                                    beth-amûm
sol                                                                      oppeh

                                     T
taquara                                                               uhtl'an
tardinha                                                              toschá
tatú                                                                     tutú
terra                                                                    uchô
testa                                                                   poreh
toucinho                                                             ahnhimim
trepar em árvore                                                bocuah
trovejar                                                              Tupan ruhuhú
tumbaca ( pássaro)                                             kupan
    
                                     U
umbigo                                                               kah'ira
unha                                                                   chapepreraquê

                                      V
veado                                                                 nom'ri
velho                                                                  tahé
verde                                                                  tongôna
você                                                                   dieh

Do catecismo Pury (tronco Macro-Jê) as seguintes expressões
-Etnônimo Pakis ( que segundo os próprios purys significa  - gente mansa
-Vuti - nome próprio masculino
- Tupengoio cupê - já foi batizado?
-tupengoio empujá - quer ser batizado?
-amá tupengoio cupê-ké - quero que sim!











                                                                                

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Vocabulário Pury continuação "M"

Português                                                   Pury

                                   M
macaco                                                    tanguah
macuco                                                   shpahra
madrugada                                              vemudah
mãe                                                         inhan
mamar                                                     nhamabtá-hm'bá
maminha                                                  nhamantah
mão                                                        chapeprera
macaco barbado                                      tokeh
macaco sauá                                           beth-amûm
mandioca                                                veijuh (beiju)
mata (com ferro)                                     môm'ran
matar (com pau)                                      mopô
mato virgem                                            tschóre
mau                                                        krohkon
meio-dia                                                 huáratirukah
mel                                                         butan
meu                                                        ah
milho                                                      maki
moça                                                      mbl'êma schu teh
mono(macaco, homem feio, desajeitado) pahra
morar                                                     lekah
morder                                                   trchemurung
morrer                                                    mbôno
mulher                                                    mbl'êma

Diferença entre Indios falante da Língua Tupi - Guarany e Macro-JÊ

Há grandes diferenças entre o povo tupi e os macro-jês, pode-se destacar a espiritualidade, a alimentação, o artesanato e outras.
Da espiritualidade
Quanto a espiritualidade, os Jês, são direcionados pela  ideia da vida, enquanto os tupis, vêem o mundo dos mortos muito mais presente.
Da alimentação
As sociedades Jês, nos legou o gosto pelo consumo do feijão, do milho, do amendoim, do churrasco, peixe, frutas e raízes ao passo que os tupis,  o consumo da mandioca  e seus derivados pirão, frutas, raízes, mel e larvas uns preferem casa de chão outros não. Temos que ressaltar também os tratamentos a base de ervas e raízes extraídas da matas.
Da música
 Tanto os Jês como os Tupi nos deixaram o gosto pela música, o primeiro temos o famoso " Canto do Vaqueiro do Sertão" e do forro e  o segundo os cantos folclóricos e suas danças.
Dos Rios e Cidades
 Os Jês nominou os rio e cidades  na região que  habitavam tais como: Poté, Nanuque, Corumbá, Cuiabá, Chapecó, Caratinga, Manhuaçu e outros. O mesmo ocorreu com os  índios Tupis  nominaram as cidades e rios  nos territórios  onde  habitavam tais como: Caicó,  Timbira,  Curupi, Tietê,  Grajaú, Pindamonhangaba, Inhangabaú e outros.
Do Artesanato
As etnias  pertencentes ao tronco Macro-Jês são ótimos artesãos  em taquaras, bambus, palhas, embiras, na fabricação de esteiras e penas, na produção de cerâmica  são mais simples, assim no manuseio da cerâmica, perdem para os do Tronco Tupi  que produzem este artesanato  mais sofisticado e aparentemente de  melhor  qualidade , assim como  a produção de redes. por isso, os Jês dormem pele de animais ou em esteiras ou jiraus, ao passa que, os tupis  dormem em redes. 
No Vocabulário
Há grande diferença  no vocabulário Jês se comparado ao Tupi.  No Jês encontramos grande incidência do fonema "DJ" e a utilização de apóstrofos  no Tupi antigo as acentuações, a forma de formação de palavras compostas e de frases,  conforme demonstrado anteriormente  comparando a Arte da Gramática da Língua mais falada na costa do Brasil - Pe Anchieta, e o vocabulário da Língua Pury que será demonstrado mais adiante.
São muitas as diferenças entre as etnias  do Tronco Macro - Jê  e do Tronco Tupi, logo os habitantes  dos estados centrais  de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso tem sua cultura, seus costumes, sua alimentação e como não poderia ser diferente, uma  forma ímpar no falar e  nos seus sotaques . Sem preconceito linguístico, é claro.
Entre os tchês e gês da nossa dgente Linguista defende que cuiabano não fala errado e que “beleza” da linguagem está em quem vê.
Por Thiago Foresti, redação site TVCA Um dos aspectos mais importantes e pouco representados da cultura cuiabana é a linguagem. Não existem novelas, filmes ou programas nacionais que exibam o modo de falar daquele cuiabano comumente chamado de “tchapa e cruz”, de falar manso, doce e tranquilo. A professora Lúcia Helena Possari, do Instituto de Linguagens da UFMT, natural de Ribeirão Preto, se encantou pelo sotaque assim que chegou ao nosso estado e resolveu estudar o tema. O resultado foi um livro chamado“Vozes Cuiabanas” no qual discute vários aspectos desse linguajar, inclusive o que o próprio cuiabano acha da própria língua. “Não diria que o cuiabano tem orgulho nem vergonha. Depende do grau de afetividade com que cada um se relaciona com esse falar. O que a gente sabe é que a linguagem está sendo friccionada o tempo todo. A língua é dinâmica, é porosa, ela vai adquirindo, vai modificando”, explica a professora. Ela também lembra do caso do comediante Lio Arruda, que fez muito sucesso aqui na década de 90. Arruda fazia parte de um projeto “Muchirum Cuiabano” (Mutirão Cuiabano) que era uma proposta de resgate da língua proposto por alguns intelectuais. “Em todas as peças ele usava traços linguísticos em tom de humor. No jornal fazia uma transposição da oralidade exatamente de como era falado para a escrita. Ele transcrevia exatamente como ela falava no impresso. Sua proposta era manter e preservar o que não era possível” Sim, pois para a professora é impossível preservar uma língua, principalmente porque ela é dinâmica e muda a todo momento. “As pessoas mais apocalípticas pensam na extinção, no extermínio disso ou daquilo. As coisas se transformam isso sim, mas muitos traços vão permanecer por muitos séculos, tenho certeza”. Ela diz que a mídia é uma grande influência na media em que as principais emissoras tentam pasteurizar a língua portuguesa em todo território nacional: “há a tendência de que a emissora, que como o próprio nome diz funciona como pólo emissor, tenda a uniformizar a língua no Brasil inteiro. É claro que ela consegue, até certo ponto, fazer interferências, mas não vai conseguir uniformizar a língua porque a cultura é muito mais dinâmica”. Quanto a velha pergunta: O cuiabano fala certo ou errado? A professora também tem uma teoria. “O que mais chama atenção são alguns aspectos da fala, como o chê e gê, talvez os mais característicos. Isso é falar cuiabano. No entanto algumas pessoas se assustam com o chamado rotacismo (que é a troca do lá pelo rá), mas é bom lembrar que isso não é falar cuiabano. Em qualquer região do Brasil você vai encontrar essa mudança de fonema, pode ir no Rio de Janeiro e vai ouvir alguém falando Fra-fru, por exemplo”. Nesse sentido, é possível afirmar que o cuiabano não fale melhor nem pior do que em qualquer outra parte do Brasil. Talvez esse mito do “falar errado” seja algo criado por quem não entende muito de linguagem. A professora explica que é uma tendência de quem vem de fora considerar que o que ele traz é melhor do que o que vai encontrar aqui. “Não só pelo modo de falar, mas por tudo o que ele representa, entre aspas, vindo de um estado mais desenvolvido de um estado onde a renda per capita é maior. Ele então se impõe, mas no fundo não consegue, porque não existe imposição de cultura. As coisas se encaixam, um influencia o outro, o outro influencia um”. Essa recusa e distanciamento que o falar cuiabano encontra pode resultar em vergonha. A professora diz que as pessoas com pensamento mais avançado nessa ciência tendem a deixar o purismo da língua portuguesa de lado. Como ela diz: “As coisas são como elas são. Tudo tem jeito, tudo se encaixa, se modifica. Sempre tem um purista de plantão que vai dizer que em Cuiabá se fala errado. Vai dizer que todos os falares deveriam obedecer a norma padrão. Mas isso não é verdade, cada lugar do Brasil tem um falar diferenciado um do outro”. O Falar Cuiabano No Brasil, país de população multifacetada em relação às suas origens, cada região se desenvolveu de acordo com o momento no qual foi ocupado, de acordo com os interesses econômicos vigentes tais como o pau-brasil, o ouro e a cana-de-açúcar. Assim, o falar de cada local foi se moldando neste encontro de povos vindos de fora - portugueses, espanhóis, africanos e holandeses - com a população local - os índios. Cuiabá viveu mais de século isolada dos centros econômicos mais importantes, mantendo-se nesse período em uma economia de subsistência, através de formas artesanais de produção. Este contexto fomentou a formação do falar cuiabano, pois, além de Mato Grosso estar afastado dos grandes centros da economia nacional, esta era uma época na qual não existiam os meios de informação que nivelam a língua. Esta região era periférica e não se influenciava pelo dinamismo urbano que já transformava a linguagem em locais mais abastados economicamente; assim o falar cuiabano se cristalizou através das suas influências mais locais: os índios, os portugueses, os africanos e os espanhóis. Em seu processo histórico, o fato que mais influenciou a formação do que hoje é o falar cuiabano foi o final da Guerra da Tríplice Aliança - a Guerra do Paraguai - quando os prisioneiros paraguaios da Retomada de Corumbá ficaram confinados à margem direita do rio Cuiabá, atual cidade de Várzea Grande. Ao final do conflito, os prisioneiros não retornaram ao seu país de origem e permaneceram pela região ribeirinha, miscigenando-se com a população local. Esta integração acarretou na influência sobre a cultura regional, através de novos costumes, danças - a polca paraguaia e o siriri - e moldou o linguajar cuiabano. Fonética – O som das palavras De acordo com o livro Do falar cuiabano, de Maria Francelina Ibrahim Drummond (DRUMMOND, Maria Francelina Silami Ibrahim. Do falar cuiabano. Cuiabá: Secretária Municipal de Educação e Cultura, 1978), Mato Grosso, classificado dialetologicamente, está compreendido nas áreas pastoril e da mineração. À primeira, chama-se "ciclo do ouro", e a segunda compreende o "ciclo da mineração propriamente dito" e o "ciclo da garimpagem" nas margens dos rios e lagos diamantíferos de Mato Grosso. Sob o ponto de vista da fonética, classifica-se ainda como sendo a zona das africadas tch e dj, do R e L pós-vocálicos com articulação, denominada retoflexa pelo professor Serafim da Silva Neto. Ressaltam-se os seguintes aspectos da fonética: I. VOGAIS a. Tônicas /a/ Desnasalização em final
irmã - irmá
tarumã - tarumá Seguido de nasal, não se nasaliza e se abre
lancha - láncha
pano - páno /e/ Final fechada tônica se abre
bangüe - bangüé Com nasal:
/a/, /e/, /o/
Não-nasalação do /a/, /e/, /o/
conheço - conhéço
fome - fóme b. Átonas 1. Ocorre freqüentemente a aférese do a igarité - garité
amanhacer - manhecer
amoitecer- noitecer
alarido - larido
alambrado - lambrado 2. /e/ Protônico seguido de r passa a i, caindo o r
senhor - sinhô
medir - midi 3. /e/, /o/ Finais se pronunciam /E/ e /O/ e não /i/, /u/
de - dE (dê)
jeito - JeitO
carro - carrO 4. Mantêm-se a vogal média e as extremas /A/, /I/, /U/. II. DITONGOS 1. /io Final se transforma em /iu/
rio - riu
baixio - baixiu
fio - fiu 2. /eu/ Oral aberto em final se fecha
Poxoréu - Poxorêu
chapéu - chapêu 3. /ou/ Final se reduz a /ô/
estou - estô
falou - falô/a/, /e/, /o/ 4. /ãe/ Final desnasaliza-se
mamãe - mamai 5. /ai/ No interior, passa a /ei/
raiva - reiva
Diante do palatal, no interior, reduz-se a /a/ e diante de /k/
paixão - paxão
caixão - caxão 6. /ei/, /ai/, /oi/ Seguidos de sibilante se reduzem
seis - sês
mais - mas
demais - demás
depois - depôs
7. /ei/ Em posição interna, antes de palatal ou R, passa a /ê/
queijo - quejo
luzeiro - luzero
cativeiro - cativero 8. /ão/ Final passa a /on/
coração - coraçon
visão - vison
baratão - baraton III. CONSOANTES Pré-vocálicos mantêm-se;
Pós-vocálicos ensurdecem ou caem 1. /r/ Final cai
principiar - principiá
parar - pará
rebuçar - rebuçá 2. /b/ Passa a /v/
gabo - gavo
pereba - pereva
jabuticaba - jabuticava
piaba - piava 3. /j/ Passa a /dj/
caju - cadju
jóia - djóia
japa - djapa
João - djoão 4. /s/ Inicial passa a /ch/
Sô - chô
Sá - chá 5. /z/ Intervocálico passa a /g/
várzea - várgea
vazio - vagio 6. /l/ Final se vocaliza diante de /e/ e /i/
papel - papéu
sutil - sitiu
ou desaparece
canzil - canzi
depois de /a/, desaparece:
qual? - quá?
saranzal - saranzá
angical - angicá 7. /lh/ Passa a /i/
tralha - traia
mulher - muié
palheiro - paiero
afilhado - afiado
8. /x/, /ch/ Passam a /tch/
peixe - petche
Coxipó - Cotchipó
mexer - metcher
chuva - tchuva
pincha - pintcha
chincha - tchintcha Sobre o /tch/ e /dj/ há grande discussão entre os diversos autores, o Professor Serafim da Silva Neto questiona a relação entre o tch, do Norte de Portugal e o presumido tch regional brasileiro, para ele tal fonema teve a mesma duração do tchê, pois é provável que já tivesse desaparecido no século XV. Segundo Silva Neto, para se dar a exata interpretação histórica do tch e do dj é necessário estabelecer a área geográfica e respectiva base humana, a área se estende pelo interior de Mato Grosso, São Paulo e faixa costeira do Paraná, uma área de colonização paulista; tal falar foi precedido de um longo período de bilingüidade, em que se falava, juntamente da língua portuguesa, a língua dos índios. Silva Neto ainda acrescenta que o fonema tch em tupi foi observado em trabalhos lingüísticos, como o de Saint-Hilaire, que pesquisou a maneira pela qual os brasileiros das áreas citadas emitiam o ch português, e descobriu que era um ch totalmente indígena, não era tch nem ts. Silva Neto conclui: "dada a sua peculiar base humana e área geográfica, o tch se constitui o resultado e a continuação de uma pronúncia de aloglotas". (Serafim da Silva Neto, "Língua, Cultura e Civilização", IN Do falar cuiabano). Outros Aspectos Fonéticos 1. No gerúndio, desaparece o 'd' da terminação falando - falano
dormindo - dormino
esquentando - enquentano 2. Troca-se o /o/ pelo /u/ em vocábulos como: foge - fuge
e /ou/ em /u/: ouve - uve 3. /bl/ passa a /br/ blefe - brefe
neblina - nebrina
bloco - broco 4. /pl/ passa a /pr/ plano - prano
planície - pranice 5. Assim O vocábulo assim se altera em ansi:
nasaliza-se o /a/ inicial,
desnasaliza-se o /i/ final. 6. Freqüentemente se deslocam sílabas tônicas de paroxítonas terminadas em /ão/ e de proparoxítonas. bênção - benção
espírita - espirita
hidráulica - hidrole 7. Grupo /pr/ seguido de /o/ passa a /por/. proíbe - poribe 8. /oi/ passa a /ori/ depoimento - deporimento 9. A preposição para pasa a pra e/ou se aglutina com os artigos e o pronome você sincopado (ocê). pra
pras
procê 10. 'Por' passa a pro. "Dei ocê pro morto". Morfologia e sintaxe do falar cuiabano O falar cuiabano é encontrado mesmo entre os que têm maior contato com a vida urbana, os mais jovens que ouvem rádio, vêem televisão, lêem jornal, enfim, que participam de atividades de lazer e profissional com outros grupos sociais. Percebe-se então na população mais nova características da fala dos mais idosos, sem que haja um conflito de comunicação entra ambas as gerações. É evidente, no entanto, que haja diferenças de vocabulário, com o acréscimos de termos pelos mais jovens, de acordo com o contexto vivido por eles. Eis alguns pontos de destaque: I. SUBSTANTIVO O que se pôde observar de mais freqüente quanto ao substantivo foi o seguinte: 1. Costuma haver mudança de gênero, marcada no pronome e/ou artigo seguinte ao nome. "Mora num casa desses." 2. Quanto à flexão de grau, notam-se casos em que o aumentativo é construído usando-se o sufixo aina. Comezaina, chapelaina.
Ou ainda com o sufixo ada.
Galinhada, pexaiada. 3. Quanto ao diminutivo, encontramos, com freqüência, a formação com o sufixo ote. Capãozote, gurizote.
Ou ainda:
Machucadorinho, dorinha (dorzinha). 4. A entonação da voz também diz muito. Alonga-se ou se diminui a intensidade da sílaba tônica do vocábulo, conferindo-lhe valor aumentativo ou diminutivo, respectivamente. "Moro loonge daqui!"
"Tem um guri piquinininho." II. ADJETIVO Normalmente, a adjetivação é contida; a linguagem é sobretudo referencial e centra-se no substantivo. Quanto ao uso do adjetivo, observa-se o seguinte. 1. Não se forma o feminino dos adjetivos, os quais se usam indistintamente no gênero masculino, aplicados a seres femininos e masculinos. "Ah, dona! Hoje tô demais de fraco. Nem num sei o que me deu." (mulher falando).
"Fiquei apurado pensando na vasilha que num vinha mais." (mulher falando).
"Acho a vida bom justamente porque tô acompanhando o ritmo dos mais novos."
"A porta tá aberto."
"A rapadura tá fino. Ficou demais de bom."
"Peixe era fartura. Tinha rês, galinhada farto." 2. O superlativo é formado usando-se a expressão demais de, antes do adjetivo. "Tá demais de bom."
"Ô quá! Tá demais de quente!" 2.a. Também se encontram construções freqüentes como no exemplo abaixo em que o superlativo se forma com outro adjetivo, reforçando o sentido (superlativo). "Põe chico-magro pra ferver com o caldo e ele fica alvo de branco." 2.b. Ou ainda utilizando-se a expressão de uma vez. "Toma este chá e fica bom de uma vez." (ótimo).
"Ficou doido de uma vez." (doidíssimo). III. PRONOMES PESSOAIS DE TERCEIRA PESSOA Empregam-se estes pronomes indistintamente no gênero masculino, aplicados a seres femininos e/ou masculinos ou que correspondem ao pronome feminino.
"Ele vai agorinha." (O falante se referia a uma menina).
"As criançada tá sem domínio. Ninguém num pode com ele."
"Ele chama Isabel." IV. PRONOMES DEMONSTRATIVOS Observa-se a mesma ocorrência citada acima. Prevalece sempre o gênero masculino.
"Esse é bravo." (Referência a mulher).
"Mas a vida é esse mesmo." V. PRONOMES POSSESSIVOS Não se observa a ocorrência citada, mas constata-se construções comuns, como as que se seguem em casos do possessivo ser posposto ao substantivo. Em caso de anteposição, não se registra.
"Era uma prima meu."
"Este é filho de irmá meu."
"A casa era meu e das irmandade toda." VI. PRONOMES INDEFINIDOS São comuns três expressões que substituem os pronomes indefinidos muito, muita, muitos e muitas: que só, que tava, que era. "Tinha mato que só."
"Festa bonita. Festa que tava."
"Bicho que era! Nunca vi tanto!" VII. PRONOMES DE TRATAMENTO Entre os falantes mais idosos, não se flexiona a forma senhor no feminino.
"Sinhô tá bom?" (cumprimento a uma mulher).
"Sinhô?" (interrogando uma mulher). VIII. VERBOS SER E IR No pretérito perfeito do indicativo, a primeira pessoa do singular é sempre empregada como terceira.
"Eu foi pescador a vida inteira." (ser).
"Eu foi pro hospital primeira vez." (ir). IX. VERBO PÔR O mesmo ocorre com o verbo pôr no pretérito perfeito do indicativo.
"Eu pôs os cestos de lado e fui ver." X. VERBO ESTAR No pretérito perfeito do indicativo, a primeira pessoa do singular é empregada como terceira.
"Eu esteve." XI. NEGATIVAS Comum é o emprego de duas negativas numa mesma oração, relacionadas ao mesmo verbo.
"Eu nem num sei quanto que é."
"Ninguém num viu a cara dele, só o lombo grande." XII. EXPRESSÃO EQUIVALENTE A DEMAIS É de uso generalizado a substituição do advérbio demais pela expressão esse mundo, equivalente a intensidade.
"Lá é longe esse mundo!" (Lá é longe demais!).
Convém ressaltar, frisando mais uma vez, que a intensidade é reforçada pela tonalidade da voz do emissor ao se exprimir nestes termos. Existe um alongamento exagerado de entonação da palavra modificada pela expressão esse mundo. É pronunciada demoradamente, e, por si só, já indicaria distância imensa. XIII. VERBO VIR No imperativo afirmativo, prevalecem, na totalidade dos casos, as terceiras pessoas do singular e do plural. O mesmo não se observa em outros verbos de uso mais freqüente.
"Venham, crianças!"
"Venha, guri; larga disso!" XIV. MUDANÇA DE CLASSES DE PALAVRAS 1. O pronome indefinido tudo passa a substantivo "Já fiz de um tudo". 2. Artigo indefinido passa a substantivo "Só tenho um filho. Só este um."
Este exemplo poderia representar um caso de zeugma. Existem casos em que o falante se refere ao ser e, sem mencionar o nome, constói orações da seguinte forma: "Este um é meu." 3. Adjetivo passa a advérbio. Caso específico de duro, cujo emprego é generalizado, fato comprovado em outras áreas da cidade, entre falantes de diversos níveis socioculturais. "Bate duro!"
"Desceu o rio, piloteando duro." 4. Advérbio demais Este advérbio se transforma comumente em adjetivo, seguido de preposição de.
"Aí vinha demais de povo."
"Era demais de peixe que dava. Jogava fora ou dava pros outros ou fazia azeite." XV. ALGUMAS REGÊNCIAS NOMINAIS E VERBAIS Alteram-se as regências de muitos verbos e nomes no falar cotidiano. Talvez isto aconteça visando a se dar maior ênfase ao enunciado - outro item aberto a investigações. Vejam-se algumas ocorrências. 1. Chegar Emprega-se com a preposição de em vez de a, nas locuções verbais.
"Ele chegou de fazer assim." 2. Pelejar Muito usado como transitivo direto, significando trabalhar, lutar no dia-a-dia.
"A gente continua aí, pelejando a vida." 3. Lutar a. Na acepção de trabalhar com, lidar com, é empregado com a preposição contra.
"Eu luto contra o gado."
"Nós tudo sempre lutou contra lavoura." b. Também é usado, na acepção indicada acima, com a preposição com.
"Minha vida foi lutar com peixe, comprar e vender peixe." 4. Perguntar Na acepção de informar-se, é tomado como transitivo indireto, regido de preposição de.
"Perguntei de sua casa pra ele. Num sabia." 5. Telefonar Encontra-se telefonar no lugar de telefonar pra, com o mesmo significado deste último.
"Fui em Várzea Grande, telefonar em casa do doutor." 6. Fornecer É comumente empregado com a preposição de, regendo o termo que seria objeto direto.
"Naquela época, a gente fornecia ele de leite." (Em vez de: Naquela época, a gente lhe (= ele) fornecia leite (= de leite). 7. Emprestar Construções em que se utiliza este verbo, apresentam-no como transitivo direto. O objeto indireto não aparece claro, mas sim, implícito no sujeito.
"Fulano, eu emprestei sua mala."
O sentido do enunciado é o seguinte: quem fala está conversando com uma terceira pessoa (Fulano), esta pessoa comunica que tomou emprestada sua mala (de Fulano). Dizendo "emprestei", no pronome sujeito estava já declarado, implicitamente, que emprestara a mala a si próprio. Tem-se aqui um caso de fusão de dois termos sintáticos distintos, em um apenas. Ou, em outras palavras, a ativa "emprestei" tem valor de reflexiva: "emprestei" equivale a "me tomei emprestado".

Vocabulário Pury continuação "D" a "L"

Portugês                                            Pury

                             D
deitar                                               katahra
dente                                               utsché
dentro                                              kschê
Deus                                                Tupã
dia                                                   opeh
diabo                                               ahndl'ahman
dinheiro                                            mretrtêna
dormir                                              katahra

                            E
Em pé                                             pl'euák
estrela                                             chúri
espingarda                                      bôah
eu                                                   ah

                           F
faca                                               hum'ran
falar                                               koiah
farinha                                            makiprahra
feijão                                             chumbêna
feio                                                krohkon
ferro                                               hum'ran
filha                                                chambé
flecha                                             aphon
flor                                                 pô-pâna
fogo                                               boteh
foice                                              hum'ran ( todo objeto de ferro é hum'ran )
folha                                              djop'leh
fome                                              temembôno
força                                             mehtl'on
frio                                                nhamaitû
fumo                                              pokeh
fui                                                  mahmúm

                        G
gambá                                           scháriuô
gostar                                            tl'amatl'i
                    
                      I
irmão                                            schahtâm
intana                                           ckopahra

                      J
jacucaca                                      schák-on
jacutinga                                      pittah
jaguatirica                                    jogót-ahmûm
jaú                                               mboré
joelho                                          tuonri

                      L
lagoa                                           nhãma rorá
lagarto                                         appehrtô
levantar                                        ml'itôn
língua                                           toppeh
lindo                                            schuteh
lua                                               pentahra
luz                                               poteh